terça-feira, 16 de junho de 2009

Carl Gustav Jung



Juventude de Jung
Os assuntos com que Jung ocupou-se surgiram em parte do fundo pessoal que é vividamente descrito em sua autobiografia, "Memórias, Sonhos, Reflexões" (1961). Ao longo de sua vida Jung experimentou sonhos periódicos e visões com notáveis características mitológicas e religiosas, os quais despertaram o interesse por mitos, sonhos e a psicologia da religião. Ao lado destas experiências, certos fenômenos parapsicológicos emergiam, sempre para lhe redobrar o espanto e o questionamento.

Por muitos anos Jung sentiu possuir duas personalidades separadas: um ego público, exterior, que era envolvido com o mundo familiar, e um eu interno, secreto, que tinha uma proximidade especial para com Deus. Ele reconhecia ter herdado isso de sua mãe, que tinha a notável capacidade de "ver homens e coisas tais como são". A interação entre esses egos foi o tema central da sua vida pessoal e contribuiu mais tarde para a sua ênfase no esforço do indivíduo para integração e inteireza.

O pai, um reverendo, já deixou-lhe como herança uma fé cega que se mantinha a muito custo com o sacrifício da compreensão. A tarefa do filho seria responder a ele com uma fé renovada, baseada justamente no conhecimento tão rejeitado. Além disso, Jung viria a usar as escrituras como referência para a experiência interior de Deus, não como dogmas estáticos à espera de devoção muda, castradores do desenvolvimento pessoal. Ele lamentava que à religião faltasse o empirismo, que alimentaria a sede da personalidade n.º 1, e que às ciências naturais, que também tanto o fascinavam devido ao envolvimento com a realidade concreta, faltasse o significado, que saciaria a personalidade n.º 2. Os dois aspectos, religião e ciência, não se tocavam, daí sua constante insatisfação, devido ao desencontro das duas instâncias interiores. E foi dessa tentativa de saciar tanto um aspecto quanto ao outro, de fazer justiça ao ser como um todo, que decidiu formar-se em psiquiatria: "Lá estava o campo comum da experiência dos dados biológicos e dados espirituais, que até então eu buscara inutilmente. Tratava-se, enfim, do lugar em que o encontro da natureza e do espírito se torna realidade".

Ao longo da sua juventude interessou-se por filosofia e por literatura, especialmente pelas obras de Pitágoras, Empédocles, Heráclito, Platão, Kant e Goethe. Uma das suas maiores revelações seria a obra de Schopenhauer. Jung concordava com o irracionalismo que este autor concedia à natureza humana, embora discordasse das soluções por ele apresentadas.


Primeiros estudos
Já estudante de medicina, decide dedicar-se à, então obscura, especialidade de psiquiatria, após a leitura ocasional de um livro do psiquiatra Kraff-Ebbing. Em 1900, Jung tornou-se interno na Clínica Psiquiátrica Burgholzli, em Zurique, então dirigida pelo psiquiatra Eugen Bleuler, famoso pela sua concepção de esquizofrenia.

Seguindo o seu treino prático na clínica, ele conduziu estudos com a associação de palavras. Já nessa época Jung propunha uma atitude humanista frente aos pacientes. O médico deveria "propor perguntas que digam respeito ao homem em sua totalidade e não limitar-se apenas aos sintomas". Desde cedo ele já adiantava a idéia do que hoje está ganhando força em todos os campos com o nome de "Holismo", o ponto de vista do homem integral. A seus olhos "diante do paciente só existe a compreensão individual". Por isso evitava generalizar um método, uma panacéia para um determinado tipo de anomalia psíquica. Cada encontro é único e, sendo assim, não pode incorrer em qualquer tipo de padronização.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung



Jung Responde a Jó
Por Paulo Urban

Publicado na Revista Planeta nº / outubro 2001


Havendo certo dia os anjos apresentado-se diante do Senhor, e dentre eles Satanás, dirigiu-lhe Javé a palavra, fazendo-o notar seu servo Jó, homem íntegro, afastado do mal e incapaz de blasfemar. "Porventura Jó teme debalde a Deus?", indaga Satanás, considerando que, cercado de bens como vivia, seria mesmo de se esperar que o abastado Jó nunca protestasse. Bastaria que Javé lhe tirasse a família, o conforto, a saúde, e o fiel logo estaria cuspindo em Sua cara. "Pois bem, responde-lhe o Senhor, tudo o que ele tem está em teu poder; somente não estendas tua mão sobre ele próprio". E Satanás dali se foi (Jo 1,12), autorizado que estava a desgraçar o pobre homem.


Escrito em prosa no séc. VI a.C., este é o prólogo do Livro de Jó do Antigo Testamento, de autor desconhecido, cujo estranho enredo vive a inquietar-nos.

O demônio arruina Jó completamente. Incita os sabeus e os caldeus a roubarem-lhe os bois e os camelos e a matarem seus escravos. Num incêndio, queima seu rebanho e seus pastores e, não satisfeito, o anjo maldito levanta um furacão no deserto, levando deste mundo os dez filhos de Jó. Este, resignado, não profere palavra contra Deus.

Estranhamente, a figura de Jó expõe, de modo inequívoco, a frágil condição humana diante de uma inexplicável crueldade divina; complexo dilema sobre o qual se deteve o psiquiatra suíço Carl G. Jung, dedicando-lhe um profundo tratado, escrito aos 76 anos de idade, intitulado Resposta a Jó.

Jó parece ter vivido entre o tempo de Esaú e Moisés. Sua história foi escrita cerca de 200 anos antes dos Provérbios, onde, pela primeira vez, surge a figura de Sofia, a Sabedoria de Javé. Ela é a natureza feminina de Deus, que até então não havia sido sequer mencionada. Javé criou o mundo sem reconhecê-la, mas é a própria Sofia quem nos diz ter estado por toda eternidade ao lado Dele: "O Senhor me criou desde o princípio...ainda não havia abismo quando fui concebida" (Pro 8,22-24).

Sabedoria corresponde no cânon bíblico à Deusa Isthar dos Babilônios que, por sua vez, originou Ísis egípcia, ambas capazes de se apresentar sob a forma de árvore, seja o cedro, o carvalho, a oliveira etc... Gênesis alude a esta face desconhecida de Deus, disfarçando-a na serpente arbórea que corrompe o casal edênico. Isto porque Sofia também pode ser representada pelo Logos, isto é, a razão, a luz de nossas consciências; afinal, a inteligência tem um caráter que a aproxima da Sabedoria. Neste aspecto, podemos entender Satanás (do hebraico; satan: o que se opõe) como aquele que nos oferece o fruto interdito da consciência que, uma vez experimentado, nos separa da natureza absoluta original (Deus e o Paraíso), transformando-nos em indivíduos, com a luz própria do arbítrio e do discernimento. Distante da idéia do mal, seu correspondente clássico é Prometeu, que rouba o fogo de Zeus para entregá-lo aos homens.

texto completo:
http://www.amigodaalma.com.br/conteudo/artigos/jung_jo.htm

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