segunda-feira, 22 de junho de 2009

Bhagavad Gita - A epopéia



Para quem está estudando o Para quem está estudando o Bhagavad Gita, ou vai começar a estudar,vale muito a pena dar uma lida no texto abaixo. São trechos extraídos
do livro "A Essência do Bhagavad Gita - Explicada por Paramhansa
Yogananda". Nesse livro Swami Kriyananda escreve sobre a interpretação
do Gita baseada nos ensinamentos Yogananda transmitidos por Yogananda.


" ... A guerra de Kurukshetra descreve a luta final da alma para
desvencilhar-se dos grilhões de maya, ou ilusão. A guerra em si,
embora seja também um evento histórico, ilustra o combate que todo
aspirante espiritual, cedo ou tarde, terá que enfrentar.

...Cada Pandava no Mahabharata representa um dos chakras espinais – da
base até a medula oblonga. Na alegoria, Draupadi simboliza o poder da
Kundalini. Draupadi, em virtude de uma série de circunstâncias
torna-se esposa de todos os cinco irmãos Pandavas. O que é então a
Kundalini?

Quando penetra no corpo e desce pela espinha, a energia fica, por
assim dizer, bloqueada no pólo inferior (cujo oposto é o anahata
chakra, no coração). Para que a energia possa subir pela espinha, é
necessário primeiro que a Kundalini seja “despertada” – quer dizer =,
seu domínio sobre a consciência material tem que ser anulado. A
extensão desse domínio depende do grau de apego à matéria na mente. O
desapego à matéria liberta a energia, que pode então subir pela
espinha. À medida que vai passando pelos chakras, vê-se impedida como
que por uma porta “fechada”. Esse bloqueio se deve ao fluxo de energia
que escapa para fora através dos plexos. A Kundalini ascendente
precisa “acordar” espiritualmente cada chakra. Quando o portal deste é
aberto, uma nova onda de discernimento e poder espiritual é liberada,
aguçando a percepção.

No muladhara, ou centro coccígeo (o chakra mais baixo na espinha), a
energia despertada pela Kundalini e a mover-se para o alto tem como
símbolo o mais jovem dos Pandavas, Sahadeva.

O próximo chakra no caminho para cima, swadisthana ou centro sacral, é
representado em sua energia ascendente por Nakula, o mais velho dos
gêmeos. Esses gêmeos são a prole de Pandu e Madri, com Madri
simbolizando o “poder do apego à serenidade”.

Despertado o segundo chakra, a energia flui dali para os chakras
superiores, onde é simbolizada pelos filhos de Pandu e Kunti – Kunti,
o “poder da serenidade”. A diferença entre as qualidades de Madri (o
poder do apego à serenidade) e Kunti (o poder da serenidade) reflete o
grau de envolvimento do ego. No apego à serenidade ainda há muito do
pensamento inferior “Eu sou sereno”; a serenidade em si é abstrata,
não revelando mais a consciência pessoal de “possuí-la”.

Quando reinicia a subida a partir do swadisthana, ou centro sacral, a
enregia de novo se vê bloqueada no manipura, ou centro lombar oposto
ao umbigo. Esse chakra é simbolizado por Arjuna. O chakra seguinte é o
anahata, o centro do coração (ou dorsal), representado por Bhima.
Finalmente, o último e mais elevado chakra da espinha é bishuddha, o
centro espinhal, simbolizado por Yudhisthira.

Cada chakra, uma vez desperto, proporciona graças a esse estado um
certo vislumbre espiritual. Sahadeva, a energia ascendente no chakra
inferior, propicia o poder divino da resistência (à tentação). Nakula,
a energia no próximo chakra, o poder do apego à virtude. Essas duas
qualidades são os yamas e niyamas do caminho óctuplo para a iluminação
segundo Pantanjali: o poder de evitar o erro e aderir ao acerto. Temos
aí os dois poderes que constituem a base imprescindível para toda
evolução espiritual séria.

Arjuna, o “Príncipe dos Devotos” conforme o chama Krishna no Gita,
reside no manipura ou centro lombar e representa o sólido
autocontrole. Esse autocontrole se aprimora quando o yogue se torna
apto a seguir as regras prescritivas e proibitivas do caminho
espiritual.

Bhima, o segundo irmão mais velho, representa a qualidade do coração
e, também, o controle da força vital. ...Os desejos do ser humano
concentram-se no coração. O yogue precisa dirigir cada raio da energia
do desejo para o alto, na divina aspiração de alcançar o olho
espiritual entre as sombrancelhas.

O mais elevado dos chakras espinais é o bishuddha, ou centro cervical,
logo atrás da garganta. Quando a energia acumulada nesse ponto é
dirigida para cima, a mente adquire serenidade e expansão
verdadeiramente divinas. O símbolo aqui é Yudhisthira, o mais velho
dos irmãos Pandavas.

Os gêmeos, prole de Pandu e Madri, representam o ego voltado
unicamente para a liberdade interior e amparam o yogue principiante em
suas práticas espirituais. Os três irmãos mais velhos, filhos de Pandu
e Kunti (o poder da serenidade), propiciam força e inspiração para a
elevação interior, espiritual.

Portanto, é importante desde o início compreender que o Bhagavad Gita
proporciona sólida orientação e inspiração espiritual. É bem mais que
uma escritura recheada de máximas piedosas: trata-se de uma guia
eloqüente e prático para a união com Deus.

...Dhritarashtra, o pai dos Kauravas ou Kurus, teve por mãe Ambika
(Dúvida Negativa). Nasceu cego – como cego se é, espiritualmente,
quando o conhecimento provém apenas dos sentidos. Pandu, pai dos cinco
Pandavas, nasceu de Ambalika, co-esposa de Ambika, que representa a
faculdade positiva do discernimento.

Essas duas esposas de Bichitrabirya (o ego divino ou senso da divina
individualidade) são os opostos que se equilibram: a Dúvida negativa
em face da Faculdade Positiva do Discernimento. Dhritarashtra (a mente
cega), com sua primeira esposa, Gandhari (símbolo do poder do desejo),
gera Duryodhana e seus 99 irmãos.

Duryodhana, primeiro filho de Gandhari, simboliza os desejos
inspirados pelo ego. Paramhansa Yogananda, em seus comentários do
Gita, chama-o de Rei Desejo Material. Todas as tendências sensoriais
subordinam-se ao desejo supremo do ego de alimentar sua própria
importância.

Pandu é filho de Ambalika. Ambalika, vale lembrar, representa a
faculdade positiva do discernimento. Assim, Pandu simboliza a
aplicação prática dessa faculdade positiva, ou seja, a inteligência
lúcida, positiva.

Os Kauravas, ou Kurus, filhos de Dhritarashtra (a mente cega), são
primos-irmãos dos Pandavas (os filhos de Pandu). Esse parentesco se
deve ao fato de descenderem todos da mesma consciência humana. Mas são
também inimigos, pois seus interesses se contradizem diametralmente.

O campo de batalha é, como dissemos, a espinha dorsal. Aqui a guerra
se trava entre as tendências inferiores (por um lado), que abismam a
consciência no mundo dos sentidos, e as tendências superiores (por
outro lado), que a elevam para a fonte verdadeira do Espírito. Que
essas duas forças fluem em direções contrárias na espinha, vemo-lo em
muitas realidades corriqueiras da vida."

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