domingo, 1 de abril de 2012

Os setes saberes necessários



Os setes saberes necessários

Capítulo I: As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão
➢ É impressionante que a educação que visa a transmitir conhecimentos
seja cega quanto ao que é o conhecimento humano, seus dispositivos, enfermidades, dificuldades, tendências
ao erro e à ilusão, e não se preocupe em fazer conhecer o que
é conhecer.
➢ De fato, o conhecimento não pode ser considerado uma ferramenta
ready made, que pode ser utilizada sem que sua natureza
seja examinada. Da mesma forma, o conhecimento
do conhecimento deve aparecer como necessidade primeira,
que serviria de preparação para enfrentar os riscos permanentes
de erro e de ilusão, que não cessam de parasitar a
mente humana. Trata-se de armar cada mente no combate
vital rumo à lucidez.
➢ É necessário introduzir e desenvolver na educação o estudo
das características cerebrais, mentais, culturais dos conhecimentos
humanos, de seus processos e modalidades, das disposições
tanto psíquicas quanto culturais que o conduzem ao
erro ou à ilusão.

Capítulo II: Os princípios do conhecimento pertinente
➢ Existe um problema capital, sempre ignorado, que é o da
necessidade de promover o conhecimento capaz de apreender
problemas globais e fundamentais para neles inserir os
conhecimentos parciais e locais.
➢ A supremacia do conhecimento fragmentado de acordo com
as disciplinas impede freqüentemente de operar o vínculo entre
as partes e a totalidade, e deve ser substituída por um modo
de conhecimento capaz de apreender os objetos em seu contexto,
sua complexidade, seu conjunto.
➢ É necessário desenvolver a aptidão natural do espírito humano
para situar todas essas informações em um contexto e um
conjunto. É preciso ensinar os métodos que permitam estabelecer
as relações mútuas e as influências recíprocas entre
as partes e o todo em um mundo complexo.


Capítulo III: Ensinar a condição humana
➢ O ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico,
cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da natureza
humana é totalmente desintegrada na educação por meio
das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que
significa ser humano. É preciso restaurá-la, de modo que cada
um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência,
ao mesmo tempo, de sua identidade complexa e de
sua identidade comum a todos os outros humanos.
➢ Desse modo, a condição humana deveria ser o objeto essencial
de todo o ensino.
➢ Este capítulo mostra como é possível, com base nas disciplinas
atuais, reconhecer a unidade e a complexidade humanas,
reunindo e organizando conhecimentos dispersos nas
ciências da natureza, nas ciências humanas, na literatura e na
filosofia, e põe em evidência o elo indissolúvel entre a unidade
e a diversidade de tudo que é humano.

Capítulo IV: Ensinar a identidade terrena
➢ O destino planetário do gênero humano é outra realidadechave
até agora ignorada pela educação. O conhecimento
dos desenvolvimentos da era planetária, que tendem a crescer
no século XXI, e o reconhecimento da identidade terrena,
que se tornará cada vez mais indispensável a cada um e a
todos, devem converter-se em um dos principais objetos da
educação.
➢ Convém ensinar a história da era planetária, que se inicia
com o estabelecimento da comunicação entre todos os continentes
no século XVI, e mostrar como todas as partes do
mundo se tornaram solidárias, sem, contudo, ocultar as opressões
e a dominação que devastaram a humanidade e que
ainda não desapareceram.
➢ Será preciso indicar o complexo de crise planetária que marca
o século XX, mostrando que todos os seres humanos, confrontados
de agora em diante aos mesmos problemas de vida
e de morte, partilham um destino comum.

Capítulo V: Enfrentar as incertezas
➢ As ciências permitiram que adquiríssemos muitas certezas,
mas igualmente revelaram, ao longo do século XX, inúmeras
zonas de incerteza. A educação deveria incluir o ensino das
incertezas que surgiram nas ciências físicas (microfísicas,
termodinâmica, cosmologia), nas ciências da evolução biológica
e nas ciências históricas.
➢ Seria preciso ensinar princípios de estratégia que permitiriam
enfrentar os imprevistos, o inesperado e a incerteza,
e modificar seu desenvolvimento, em virtude das informações
adquiridas ao longo do tempo. É preciso aprender a
navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos
de certeza.
➢ A fórmula do poeta grego Eurípedes, que data de vinte e
cinco séculos, nunca foi tão atual: “O esperado não se cumpre,
e ao inesperado um deus abre o caminho”. O abandono
das concepções deterministas da história humana que acreditavam
poder predizer nosso futuro, o estudo dos grandes
acontecimentos e desastres de nosso século, todos inesperados,
o caráter doravante desconhecido da aventura humana
devem-nos incitar a preparar as mentes para esperar o inesperado,
para enfrentá-lo. É necessário que todos os que se
ocupam da educação constituam a vanguarda ante a incerteza
de nossos tempos.

Capítulo VI: Ensinar a compreensão
➢ A compreensão é a um só tempo meio e fim da comunicação
humana. Entretanto, a educação para a compreensão está
ausente do ensino. O planeta necessita, em todos os sentidos,
OS SETE SABERES NECESSÁRIOS À EDUCAÇÃO DO FUTURO 17
de compreensão mútua. Considerando a importância da educação
para a compreensão, em todos os níveis educativos e
em todas as idades, o desenvolvimento da compreensão pede
a reforma das mentalidades. Esta deve ser a obra para a educação
do futuro.
➢ A compreensão mútua entre os seres humanos, quer próximos,
quer estranhos, é daqui para a frente vital para que as
relações humanas saiam de seu estado bárbaro de incompreensão.
➢ Daí decorre a necessidade de estudar a incompreensão a partir
de suas raízes, suas modalidades e seus efeitos. Este estudo é
tanto mais necessário porque enfocaria não os sintomas, mas
as causas do racismo, da xenofobia, do desprezo. Constituiria,
ao mesmo tempo, uma das bases mais seguras da educação
para a paz, à qual estamos ligados por essência e vocação.

Capítulo VII: A ética do gênero humano
➢ A educação deve conduzir à “antropo-ética”, levando em
conta o caráter ternário da condição humana, que é ser ao
mesmo tempo indivíduo/sociedade/espécie. Nesse sentido, a
ética indivíduo/espécie necessita do controle mútuo da
sociedade pelo indivíduo e do indivíduo pela sociedade, ou
seja, a democracia; a ética indivíduo/espécie convoca, ao século
XXI, a cidadania terrestre.
➢ A ética não poderia ser ensinada por meio de lições de moral.
Deve formar-se nas mentes com base na consciência de
que o humano é, ao mesmo tempo, indivíduo, parte da sociedade,
parte da espécie. Carregamos em nós esta tripla realidade.
Desse modo, todo desenvolvimento verdadeiramente
humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das
autonomias individuais, das participações comunitárias e da
consciência de pertencer à espécie humana.
➢ Partindo disso, esboçam-se duas grandes finalidades éticopolíticas
do novo milênio: estabelecer uma relação de con18
EDGAR MORIN
trole mútuo entre a sociedade e os indivíduos pela democracia
e conceber a Humanidade como comunidade planetária. A
educação deve contribuir não somente para a tomada de
consciência de nossa Terra-Pátria, mas também permitir que
esta consciência se traduza em vontade de realizar a cidadania
terrena.

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