terça-feira, 23 de novembro de 2010

O mal estar na civilização..

“Filho do homem, tu habitas no meio da casa rebelde, que tem olhos para ver e não vê, e tem ouvidos para ouvir e não ouve; porque é casa rebelde.”

Profeta Ezequiel.



Ouvindo esta frase parei e pensei, hoje estamos vivendo na casa rebelde. A pós-modernidade e seus sintomas. Contextualizando, o profeta Ezequiel viveu anos afastado de sua casa (Israel), deportado junto com a corte do Rei Joaquim, aprendeu a falar de coisas do espírito em lugar, onde espaço não havia. A dificuldade de se fazer entender ...

Sinto-me como o profeta, exilada. Falar de espiritualidade dentro de uma sociedade, que não quer saber sequer de individualidade ou subjetividade, conclui que as coisas do espírito só são validadas se funcionais, caso contrário não os interessa. Que momento é este em que vivemos? Porque as pessoas não se olham nos olhos, não se unem em um bem comum, não se protegem umas as outras, não se valorizam mutuamente? A minha sensaçao é de total desamparo, e o que vejo é um momento histórico, onde nem os médicos ouvem mais os seus pacientes, não olham nos olhos, apenas pedem exames e mais exames, crentes em sua técnica infalível....e viva o dr. especialista ( que conhece muito de alguma coisa especifica, mas nada conhece da vida).Como o Dr. Luiz Roberto Londres fala em seu livro "Sintomas de uma época", o ser humano torna-se um objeto. Estamos totalmente desconectados do nosso Self, sem coerência seguimos em frente, com regras que não entendemos, apenas honramos. Os padrões de comportamento se tornam cada vez mais incongruentes. Você não precisa ser feliz apenas tem que funcionar bem, e esse funcionar tem um padrão, fora dele você é considerado um pária. Se Cristo estivesse entre nós hoje, talvez fosse classificado como exótico, bizarro, inadequado, ou coisa do gênero. A pergunta que não quer calar, se todos querem ser amados e acolhidos, porque vemos um comportamento totalmente contrário a este sentimento? Eu vejo muita mesquinharia e ganância, muita falsidade, muito egoísmo, muita crítica. E isso acontece em um mundo, que para ser perfeito só precisa que as pessoas se amem mutuamente. Se somos seres de amor, porque sentimos tanto rancor, tanta inveja, tanto desprezo pelo outro. Se somos todos um só organismo, porque fazemos mal ao outro se ele faz parte do todo ao qual eu pertenço? Desconhecemos a lei de causa e efeito? Um dia desses fiz uma apresentação e falei do lugar do terapeuta dando acolhimento ao seu paciente, porque o que todos precisamos é de amor e proteção. Fui surpreendida por minha professora, que disse que não acreditava que para se ter uma melhora da doença, era necessário que o paciente se sentisse feliz ou que tivesse uma melhora em sua qualidade de vida. Fico pensando o que vale a vida, se não houver prazer em estar vivo. O medicamento pode tirar o sujeito da crise, mas não pode devolver a vida a ele. Penso em que tipo de terapeuta eu quero ser. Alguém que pensa que, medicando um outro alguém pode resolver os seus problemas, ou tentar de todas as formas trazer esse ser adoecido de volta à vida? Penso que minha vida acadêmica não será grande coisa, pois não consigo ter outro olhar que não passe pelo humanista existencialista. Estamos aqui para assumir as responsabilidades pelos nossos atos e tomar as rédeas de nossa vida, construindo o nosso futuro. A vida é algo que acontece enquanto estamos fazendo planos, trabalhando, nos angustiando,etc... Você se dá conta disso? Por isso acredito que o tempo vivido deve servir a um propósito maior.

É impressionante como as pessoas gastam tempo com coisas sem importância, que passados dois dias, elas nem se lembram. O foco da humanidade está pequeno e pobre, e deve ser ampliado. Temos que nos observar e entender o que estamos fazendo, quais são os nossos valores e pensar se eles são válidos.

Outro dia ouvi um senhor dizer “este é um negro de alma branca”. É de impressionar que ele ache que isso é um elogio. Como entender os nossos erros se estamos tão comprometidos com valores tortos e crenças errôneas? A única forma de se aproximar de uma verdade universal, é tentar se desconstruir, tirar estas vestimentas, que não nos servem mais, praticar a visão do observador, sem critica, sem pensamentos, sem necessidade de conclusões, sem certo ou errado, apenas utilizando a técnica do amor compassivo, que é a linguagem universal... Apenas incluindo, nunca excluindo. Dando espaço para o outro, o diferente, o exótico, o bizarro. Felicidade é algo primordial para o ser humano. Quem não é feliz adoece e acaba morrendo. Se você perde a vivacidade, a energia, não tem motivação para acordar de manhã, seria melhor estar morto, pois de nada adianta uma vida sem sentido. Eu acredito no terapeuta, que traz o brilho de volta aos olhos do cliente, mas não acredito no que olha para o sofrimento do outro, como um estudo de caso, e utiliza o outro, como um ratinho de laboratório. Não sei que tipo de terapeuta eu serei, só sei que não tenho pretensão de ser como a minha professora, que aprendeu e assimilou como verdade, que no tratamento o sujeito adoecido não é necessário incluir as gotas de felicidade, para se libertar da doença, ele tem apenas que ser medicado... para ela é simples assim, talvez por que não esteja ela no lugar do sujeito adoecido.Deus me livre de ser normal, se tiver que ser desta forma. A maldita normose, que se apodera desta massa de desavisados... Para continuar estando neste mundo sem pertencer a ele, tenho que rezar a oração de São Francisco...todos os dias... Só assim poderei me lembrar o que eu estou fazendo aqui, e para que serve a minha existência.É tão fácil se perder e tão dificil se achar... peço também que a força divina que move o universo me liberte da minha intolerância e da minha ignorância. Segundo Buda a ignorância é o que dá origem a todos os outros venenos da alma.



Medito hoje na possibilidade de mudança.

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