terça-feira, 31 de agosto de 2010

Pensamentos se tornam palavras.. Ações viram hábitos. Hábitos definem seu perfil.

. Palavras se transformam em ações. Ações viram hábitos. Hábitos definem seu perfil. Seu perfil traça seu destino. Olhando essa equação, explicada assim, de forma tão simples e direta, fica difícil não perceber o quanto ela é exata. Mas o fato é que, no dia a dia, a gente não presta atenção aos pensamentos e mal percebe quando está presa num círculo vicioso de ideias negativas. O alerta muitas vezes vem dos outros, que fogem de nosso mau humor. Ou do corpo, que grita por socorro em meio a dores e doenças psicossomáticas.



Em seu famoso livro O Poder do Agora (ed. Sextante), o escritor alemão radicado no Canadá Eckhart Tolle, um renomado especialista em espiritualidade, afirma que nós somos bombardeados por pensamentos ruins o tempo todo. Algumas vezes eles aparecem sob a forma de vozes internas, outras, como imagens ou até “filmes” mentais. É um processo involuntário e constante que drena nossa energia vital, além de causar tristeza, medo e ansiedade. “O pensar compulsivo é como um vício, exatamente porque você não consegue parar”, escreve.



Segundo Price Pritchett, especialista em Psicologia Positiva e autor do livro O Otimismo Atrai o Sucesso – As 12 Práticas para Reduzir o Pensamento Negativo e Adotar a Atitude de um Vencedor (ed. Cultrix), é provável que 70% dos nossos pensamentos negativos passem despercebidos. Isso porque eles se escondem sob a forma de queixas, preocupações, críticas ou pena dos outros. “Quando estamos em um desses quatro modos de pensar, filtramos mentalmente nossas experiências para enfocar o negativo. Mais especificamente, estamos plantando sementes de pessimismo”, diz.



É como se houvesse uma espécie de lente distorcida capaz de escurecer a realidade. “Algumas pessoas só percebem o mundo através de um ponto de vista sombrio, mesmo quando a situação não tem essa conotação. Até quando tudo parece caminhar bem e acontece apenas uma coisa ruim, todo o resto perde o sentido para elas”, explica a psicoterapeuta junguiana Sâmara Jorge.



Para a psicanalista Cida Lessa, essa dinâmica de supervalorizar o negativo pode ser considerada um fenômeno coletivo hoje em dia. “Vivemos um momento muito estressante, tudo tem de ser para ontem, as informações chegam muito rapidamente e a pressão no trabalho é cada vez maior. Diante disso, as pessoas passam a se cobrar demais, criando altas expectativas e, quando uma delas não é atingida, se colocam em posição de vítima.”



Sem reclamação
Se isso acontece, imediatamente, todos os nossos problemas passam a ser considerados responsabilidade dos outros: nossos pais, filhos, chefe, marido ou até mesmo do tempo. É aí que a gente ouve – ou diz – aqueles famosos jargões: ‘só comigo’, ‘ninguém me entende’, ‘nunca vou conseguir’, ‘tudo sempre acaba mal para mim’, ou simplesmente ‘desisto’.



A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Coaching Flora Victoria explica que pensar negativamente é enxergar apenas determinado ponto da questão. “O pessimista acredita na permanência do problema, generaliza o que é ruim e especifica o que é bom. Diz que nada funciona para ele. Quando a gente o lembra daquela vez que deu certo, ele alega que foi uma exceção. Já o otimista faz o contrário, sabe que as adversidades são passageiras e que dificilmente as coisas dão errado”, afirma.



Segundo Flora, nós aprendemos desde pequenos a filtrar a realidade, direcionando nosso entendimento dos fatos a partir das crenças pessoais. “Fazemos de tudo para confirmar nossas crenças, porque elas são um terreno seguro para nós. Ao observarmos os acontecimentos, descartamos tudo aquilo que destoa do caminho que conhecemos e selecionamos apenas as provas de que nossas opiniões estão certas”, explica.



Assim também pensa a consultora americana Linda Spangle, autora de diversos livros sobre perda de peso, como Life Is Hard, Food Is Easy (em tradução livre, “Viver É Difícil, Comer É Fácil”), ainda não publicado no Brasil. Em suas palestras sobre motivação, Linda afirma que a mente tem uma importância determinante nos resultados que obtemos em qualquer questão. Ela usa a fórmula: fato-pensamento-ação-resultado para demonstrar que é nossa interpretação dos acontecimentos que determina o sucesso ou fracasso em uma situação.

Para ilustrar a teoria, imagine a seguinte situação. Uma mulher marca um encontro com seu namorado em um restaurante ao meio-dia. Chega pontualmente e o espera. Passam 15 minutos e nada. Ela começa a ficar aflita. Como não confia nos homens, logo pensa no pior. Liga para seu celular, mas só dá caixa postal. Meia hora depois, tenta o telefone do escritório, mas ninguém atende. Sua angústia aumenta. “Ele só pode ter se esquecido do compromisso”, pensa.

“Ou será que está com outra?” Em meio às alucinações, ela se levanta para ir embora quando ele chega sorridente. Mas, antes de ouvir o que tinha a dizer, ela pergunta irritada: “Como você pôde fazer isso comigo?”. Se tivesse controlado as tempestades mentais e não se deixado levar pela emoção, daria a ele uma chance de se explicar e saberia que o rapaz foi chamado às pressas pelo chefe para ser promovido e não conseguiu avisá-la. No entanto, em vez de um almoço de comemoração, o episódio termina em fim de relacionamento. Revoltada, ela confirma sua tese: homem nenhum presta!



De acordo com a escritora, nossas leituras distorcidas sobre os fatos se baseiam em experiências anteriores que não deram certo. “Seu passado não determina seu futuro. Aliás, seus erros e fracassos anteriores não têm nada a ver com sua capacidade de ser bem-sucedida agora. Elimine a crença de que as coisas sempre acontecem do mesmo jeito e de que você nunca chegará aonde quer. Quando essa ideia vier à mente, afirme: eu costumava ser assim. Não sou mais”, aconselha.



Mais prazer
Para Sâmara, é importante lembrar que o fato em si não carrega nenhuma emoção ou valor. Somos nós que atribuímos isso a ele. “O que vai determinar a qualidade da experiência, se é positiva ou negativa, é a forma como lidamos com ela e o que privilegiamos: as mágoas, a raiva, as dores e o sofrimento ou a compreensão de sua transformação em aprendizado”, aponta.



Aliás, remoer culpa e ressentimento, lembra a psicanalista Cida Lessa, não traz nenhum benefício. “Se as coisas não estão como gostaria, se está sofrendo, em vez de se lamentar dizendo que não há saída, transforme sua vida adotando novos comportamentos. De nada adianta se culpar ou culpar os outros. Somos totalmente responsáveis pelos nossos pensamentos, atitudes e escolhas”, afirma.



Facilita essa tarefa admitir que problemas fazem parte da vida e que não são exclusividades de ninguém. O que muda é o peso e a importância que damos a eles. “Diante de uma dificuldade, pergunte-se: o que eu faço com isso, como posso resolver? Se a mesma questão tiver acontecido no passado e o resultado tiver sido ruim, não se deixe abater. A história de vida da gente é como um livro – está escrita, não dá para apagar. Mas mora no capítulo anterior. Portanto, vire a página, encontre novas soluções e caminhos para viver de forma mais prazerosa e feliz”, diz Cida.



Mude o foco
Na opinião de Sâmara, uma maneira de lidar com a dinâmica de valorizar excessivamente o que é negativo é começar a olhar para o todo da vida, inclusive para o que está bom. “É importante entrar em contato com os problemas. O que não é saudável é ficar o tempo todo mergulhado neles. Essa atitude pode deixá-los maiores do que realmente são, nos cegando para as coisas boas da vida”, afirma. Outra estratégia eficaz, segundo Flora, é dar novos significados a fatos antes tidos como ruins. “Uma das técnicas que utilizamos no processo de coaching é a ressignificação. Orientamos nossos clientes a se perguntarem: o que mais isso poderia significar? Assim, muda-se o paradigma e amplia-se a perspectiva sobre o fato. O interessante é que, se você ajuda seu cérebro a pensar de maneira positiva, automaticamente consegue reelaborar o que houve, percebendo o lado construtivo das dificuldades”, diz.



Para Eckhart Tolle, o segredo para termos uma mente tranquila é tomar consciência do que pensamos. “Você pode libertar sua mente. O primeiro passo para isso é prestar atenção a seus pensamentos, ouvir a tal voz insistente. Observando, sobretudo, as ideias que se repetem há muitos anos. Quando você dá ouvidos a um pensamento, torna-se consciente dele, então ele deixa de ser tão ameaçador”, explica ele.



A maneira mais indicada de fazer isso, na opinião do autor, é usando técnicas de meditação. Mas meditar não significa parar de pensar, e sim prestar atenção ao fluxo do pensamento. Para que isso aconteça, é necessário manter o foco no momento presente, observando, por exemplo, a própria respiração. O resultado desse exercício é uma mente mais serena. “Ao sentirmos a descontinuidade desse fluxo intenso de pensamentos, começamos a experimentar pequenos intervalos de paz. Com o tempo, eles se tornarão maiores, pois com a paz vem a alegria”, escreve Tolle.



Essa foi a mesma ferramenta utilizada pelo monge budista Yongei Mingyur Rinpoche, autor do livro A Alegria de Viver – Descobrindo o Segredo da Felicidade (ed. Campus-Elsevier), para superar a síndrome do pânico. Mestre na técnica, Rinpoche foi convidado pelo dalailama a participar de um experimento na Universidade de Wisconsin (EUA), em 2002. Com a ajuda de eletrodos, os pesquisadores mediram a atividade cerebral de oito monges enquanto meditavam. No caso de Rinpoche, a movimentação na região do cérebro responsável pela sensação de felicidade foi tamanha que ele foi apontado como o homem mais feliz do mundo.

O neurocirurgião e psiquiatra americano Daniel G. Amen é especialista em uma técnica conhecida como ESPECT, que usa exames como a ressonância magnética para filmar a atividade cerebral de seus pacientes. Após dez anos de pesquisa sobre o assunto, Amen lançou o livro Transforme Seu Cérebro, Transforme Sua Vida (ed. Mercuryo), no qual explica que grande parte dos problemas considerados psicológicos estão ligados à fisiologia cerebral, sendo, por isso, passíveis de mudança. O médico defende que, utilizando os estímulos certos, que incluem mudanças de comportamento, nutrição adequada e, às vezes, remédios, é possível neutralizar o desequilíbrio cerebral e tornar-se uma pessoa mais feliz.



Na opinião de Tolle, grande parte do sofrimento humano vem da não aceitação de algo. Assim, a intensidade da dor que sentimos é proporcional ao grau de resistência ao agora. “Quanto maior for sua resignação em relação ao presente, menor seu sofrimento”, diz. Mas, cuidado, resignação não significa comodismo. É a aceitação sem revolta de que há coisas que não podemos mudar, nem controlar. Não dependem de nós. “A tendência da mente é voltar ao passado, revivendo momentos bons ou ruins, ou projetar o futuro. Mas o presente é tudo o que temos de real. Portanto, evite julgar o momento. Aceite e deixe fluir”, escreve. Assim como ficar presa ao passado não é bom, antecipar acontecimentos também pode ser bastante estressante. “A ansiedade e o medo são emoções de futuro, baseadas em expectativas e projeções do amanhã. Para lidar com elas, a melhor estratégia é o planejamento. No caso de um evento que ainda está por vir, oriento meus clientes a montarem um cronograma do fim para o começo. Ao fazerem isso, eles percebem que é possível conseguir o que querem e se sentem menos ansiosos”, afirma Flora Victoria.



Atenção aos sinais
Como apontam os especialistas, nem sempre é fácil romper o ciclo dos pensamentos negativos, principalmente quando não temos consciência de que estamos presas a ele. Mas a vida sempre nos envia sinais de que isso está acontecendo, basta ficarmos atentas. De acordo com Sâmara, tanto a saúde psíquica quanto de ordem física podem ser indícios de que algo está em desequilíbrio em nossa vida. “O problema acontece quando ficamos apegados a uma situação, sentimento ou pensamento. Qualquer unilateralismo pode ser fator desencadeante de conflitos”, diz.



A psicanalista Cida Lessa ressalta a importância de prestarmos atenção a nossos desejos e necessidades. “Se está descontente, procure descobrir o que falta. Não adianta querer uma pílula mágica, o caminho é o autoconhecimento. Além disso, a partir do momento que percebo que as pessoas estão se afastando de mim, devo me perguntar o que estou fazendo para que isso aconteça, e não por que elas fazem isso comigo”, aconselha.



Outra manifestação da negatividade são as dores e doenças. “Aquilo que pensamos sobre nós mesmas e a vida pode se tornar realidade. Então, de tanto acreditarmos que somos vítimas, acabamos ficando doentes, pois a saúde física e emocional caminham juntas. A ciência já apontou que a depressão e alguns tipos de câncer são desenvolvidos por padrões de pensamentos negativos e contínuos”, afirma Cida.



Segundo Flora, quando começamos a pensar em coisas ruins, visualizamos cenas que trouxeram ou poderão trazer sofrimento e realizamos um diálogo mental cheio de ideias nocivas. “A neurociência já comprovou que, dependendo de nossos pensamentos, o cérebro gera químicas positivas ou negativas que vão influenciar o organismo como um todo. O pessimista produz hormônios do estresse, como a adrenalina e o cortisol, que, quando liberados na corrente sanguínea, deixam a pessoa oprimida, ansiosa, agitada e angustiada. Já o otimista produz hormônios que causam a sensação de bemestar e alegria, como a serotonina e a dopamina”, diz.



Especialista em utilizar a Psicologia Positiva aplicada a empresas, o escritor Price Pritchett afirma que as atitudes afetam profundamente o desempenho profissional e o pessoal. “Vários estudos enfatizam que os otimistas são mais bem remunerados, mais saudáveis, vivem mais tempo, além de lidarem melhor com a incerteza e a mudança”, diz.



Além disso, a desesperança e o negativismo também levam à exaustão mental. “Um estado de espírito negativo mina sua energia, bem como a energia das pessoas ao seu redor. O pessimismo enfraquece sua confiança, sua criatividade e suas habilidades para resolver problemas. Drena a alegria da vida, deixando você emocionalmente esgotado e menos eficiente ao lidar com outras pessoas”, escreve.



A boa notícia, segundo o autor, é que o otimismo pode ser aprendido e praticado. O segredo, afirma, é como explicamos as situações para nós mesmos, especialmente quando passamos por fracassos, dificuldades, incertezas ou perdas, mas também quando nos deparamos com oportunidades e sucesso. “Você manda na sua mente, ninguém pode pensar por você. Cada um é o engenheiro de sua vida emocional, o arquiteto de sua própria felicidade”, afirma.



Se o desânimo tomou conta de você, espante-o, aconselha a escritora Linda Spangle. “Ao nos depararmos com a necessidade de fazer algo difícil ou trabalhoso, nossa mente logo se inunda de ideias ruins, sentimos cansaço e falta de vontade para começar a tarefa. A saída para esses momentos é simplesmente fazer. Evite pensar a respeito. Muitas vezes, os pensamentos ligados a determinada ação a tornam pior do que de fato é.”



A importância do perdão
Em seu conhecido livro Você Pode Curar Sua Vida (ed. Best Seller), a escritora e conferencista americana Louise L. Hay, pioneira na defesa da tese de que manter padrões mentais negativos cria doenças, ressalta a importância de perdoarmos aos outros e a nós mesmos por erros e fracassos do passado. Para ela, ressentimento, crítica e culpa são os padrões mentais mais prejudiciais à saúde. “Muitas pessoas me dizem que não podem desfrutar do presente por conta de algo que aconteceu no passado. O que frequentemente nos recusamos a perceber é que nos manter presos ao passado – não importa qual tenha sido e por mais horrível que tenha sido – só nos magoa. O passado é passado e não pode ser mudado. O único instante que podemos vivenciar é o presente”, diz.



Para Louise, o ato de perdoar nos liberta do passado. “Aprendi que, quando estamos empacados num certo ponto, precisamos perdoar mais. Pesar, tristeza, mágoa, medo, culpa, raiva, ressentimento ou desejo de vingança, cada um desses estados vem de um espaço onde não houve perdão, de uma recusa em desprender-se das emoções e vir para o momento presente. O amor leva ao perdão e o perdão dissolve o ressentimento”, explica a escritora.



Segundo Pritchett, a gratidão e o perdão nos mudam por dentro. Eles asseguram para nós um futuro com mais otimismo. “As pesquisas comprovam o valor terapêutico do perdão. Trata-se de um comportamento adaptado que beneficia tanto a nossa saúde física como nosso bem-estar psicológico”, escreve. Isso não significa que vamos deixar de ficar tristes ou com raiva quando algo ruim nos acontecer. A questão é por quanto tempo vamos nos apegar a esses sentimentos. Podemos nos irritar por meia hora, ou arrastar o nervosismo até o túmulo. As emoções negativas, explica o autor, envenenam nosso mundo interior, enquanto o perdão tem uma ação purificante. “A escuridão dos pensamentos negativos não pode sobreviver sob a luz brilhante do perdão e da gratidão”, constata.

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