quarta-feira, 10 de março de 2010

Gestalt

Gestalt

A - Personalidade

Como teoria de personalidade podemos falar de interdependência ecológica; o campo organismo / ambiente.

A personalidade é o sistema de atitudes adotadas nas relações interpessoais.

Quando o ser humano chega ao mundo precisa necessariamente do calor de braços humanos, de contato cheio de ternura. Precisa sentir-se seguro de que será protegido, de que foi desejado, de que alguém acalmará sua sede e fome.

Uma criança depende dass experiências dos pais e de seu meio ambiente.

O homem vive a unidade solidária de seu destino individual com o destino da comunidade a que pertence, não pode ter êxito ou fracasso por sua conta. O problema do ser define-se então como possibilidade.

A ação do homem no seu ser-no-mundo é desdobrada pela possibilidade originária de ser-com-os-outros, não é jamais individual.

Os homens não se dirigem direta e simplesmente as coisas em sua mera presentidade, mas por uma trama de significados em que as coisas vão podendo aparecer.

Para o organismo, antes que se possa denominá-lo de algum modo personalidade e, na formação da personalidade, os fatores sociais são essenciais.

B - O Mundo Fenomenal

É organizado pelas necessidade do indivíduo.

O passado reflete as experiências anteriores transformadas pelas experiências posteriores, que simbolizam as lembranças hoje.

"Para cada momento a vida nos oferece infinitas possibilidades de escolha. Muita necessidade é a de escolher apenas uma. Meu poder é de buscar escolher com consciência sabedoria e amor."(Loeci Maria Pagano Galli)

Futuro são expectativas, objetivos, metas que dirigem as escolhas de hoje e que poderão ou não se concretizarem. O futuroinspira o presente.

O presente é a única possibilidade, a única realidade. É a forma de atenção sobre a forma possível.

Pela expressão fenômeno deve reter-se o seguinte: o-que-se-mostra-em-si-mesmo. Fenômenos são então a totalidade do que há na luz do dia ou que pode ser trazido a luz. Fenômeno é igual a aparência.

Fenomenologia significa primeiramente uma concepção metodológica, não caracteriza o porque mas o como dos objetos.

O objetivo da exploração fenomenológica da gestalt é a awareness. Um fenomenólogo estuda a awareness pessoal e também a awareness do próprio processo.



Passado

Experiências anteriores

Temos uma hierarquia de necessidade, que continuamente se desenvolvem, e organizam as figuras de experiência e desaparecem . A auto-regulação organísmica confia nosso bem estar ao cuidado de um ser interno que se esforça inerentemente por ser saudável.

Futuro


Expectativas

A auto-regulação organísmica inclui três fenômenos: percepção, aceitação do que existe e consciência da necessidade dominante. Aceitação da realidade possível, que é a realidade que ela pode contatar.




Presente


Única realidade possível




C - E o pensamento torna-se a experiência

Compreenda as ações arquetípicas.

Pense num evento que esteja em harmonia com as ações / natureza arquetípicas.

Novos caminhos de mínima ação podem desenvolver-se guiando sua percepção para aquela harmonia.

E o pensamento torna-se experiência!

Cada minúsculo “ato de observação” reduz à polifonia dos caminhos a um só ponto de um dos caminhos. A partir dele são possíveis novos caminhos de mínima ação vindos do passado e indo para o futuro. Tudo se passa como se a memória do universo recebesse um leve solavanco, que a fizesse esquecer da maneira como ela trouxe este objeto até esse determinado ponto do espaço e do tempo. Se estivermos “ “dependurados” no passado. Escolheremos ver o futuro como víamos o passado. Se alterarmos nossa percepção do agora, nossa visão alterada mudará o futuro.


D - Hermenêutica

A hermenêutica é uma verdade que se estabelece dentro das condições humanas, estamos sempre confrontados como indivíduos situados dentro de uma determinada cultura.

A objetividade própria da hermenêutica ao escutar alguém ou realizar uma leitura não se trata de não levar em conta os próprios pré-juízos ou negar suas próprias opiniões, mas sim se estar aberto a opinião do outro ou do texto.

Tal receptividade não pressupõe neutralidade. A compreensão se move numa dialética entre a pré compreensão e a compreesão do momento.

A fenomenologia do ser é hermenêutica.

A hermenêutica é esta incomoda verdade, que não é nem verdade empírica e nem uma verdade absoluta, mas uma verdade que se estabelece dentro das condições humanas do discurso e da linguagem. Não há grau zero no início da investigação, pois sempre estamos confrontados como indivíduos situados historicamente dentro de uma determinada cultura. A ciência é construída sobre o mundo vivido e ela só pode ser vista enquanto resultado da experiência do mundo. Segundo Gadamer há um "perpetuum movile".

Segundo Heidegger o método fenomenológico é um método pelo qual devemos dar conta sempre de dois aspectos na investigação: o aspecto da singularidade (fenômeno) e o aspecto da universalidade (logos). Fenomenologia já contém a idéia de uma espécie de análise constante dos aspectos da singularidade e da universalidade. O método fenomenológico trata daquilo que se esconde sob o logos, que é a singularidade que tenta se expressar no logos, mas que o logos sempre oculta. É o elemento hermenêutico.

E - Awareness

É uma forma de atenção sobre a forma, uma reflexão da forma em si mesma. Temos uma hierarquia de necessidades que continuamente se desenvolvem e organizam. A awareness não é estática, é um processo de orientação que se renova a cada instante.



Entrar em contato com o mundo é o reconhecimento do ambiente. Processo de estar em vigilante contato com os eventos mais importantes do campo indivíduo- ambiente.

Experiência de estar em contato com a própria existência. Aceitação da realidade possível, realidade que ela pode contatar.

A awareness é eficaz apenas quando fundamentada e enrgizada pela necessidade atual dominante do organismo. Sem energia, entusiasmo e emocionalismo do organismo, sendo investido na figura emergente, a figura não tem significado, poder ou impacto.

Expandir-se é estar consciente do que se passa dentro e fora de si no momento presente, em nível mental, corporal e emocional.

Representa o autoconhecimento. A pessoa consciente sabe que tem alternativas e escolhe a melhor para o momento.

É aceitação da realidade possível, realidade que ela pode contatar.

F - O universo físico não existe independentemente do pensamento dos participantes

O universo físico não existe sem os nossos pensamentos sobre ele. Sem nossas observações e sem nossos pensamentos um objetivo se dispersaria no esquecimento. Imagine-se isto para a confirmação da pessoa. O princípio da incerteza: é impossível você conhecer, simultaneamente a posição e a trajetória de um objeto em movimento. Se você determina um destes atributos com excelente precisão será sempre às expensas do outro. Por isto, mesmo que você faça uma observação tão boa quanto possível, o mundo será, sempre, um pouco incerto.O que denominamos realidade é construído pela mente. O Mundo não é o mesmo sem você.


* *



G - Contato

O limite no qual o indivíduo e o meio se tocam, em Gestalt-terapia denomina-se "limite de contato", e neste limite ocorre o intercâmbio vivo entre indivíduo e meio.

Contato é o processo básico do relacionamento, é a consciência de si como um ser com. Toda experiência do indivíduo podem sofrer alterações conforme o campo em um dado momento. Experiência é contato. Contato é função do campo e obedece as leis que regem o campo. Posso estar contigo, unicamente se estou seguro de que tu és, não eu e que existimos como entes separados. Contato é o processo básico do relacionamento. O diálogo é que emerge quando eu e você buscamos o contato de forma autêntica. O diálogo não é você mais eu, ao contrário, ele surge da interação. O contato humano é um processo mútuo de duas pessoas separadas, movendo-se em ritmo de união e separação

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H - Figura-Fundo

Na subjetividade da percepção a escolha pode ser consciente ou inconsciente do que para aquela pessoa aparece como figura ou fundo.

O processo de formação de figura-fundo é dinâmico, o organismo seleciona e desenvolve formas próprias de auto-conservação. Qualquer fenômeno observado nunca é uma realidade objetiva em si.

A figura depende do fundo sobre o qual aparece; o fundo serve como uma estrutura ou moldura em que a figura está enquadrada ou suspensa, e por conseguinte, determina a figura.

Vir ao mundo significa poder partilhar, com os outros, o seu modo de ser. Mas o ser sem que me pertencesse isoladamente, me anularia como individualidade; porém o ser que me define em minha individualidade, me abre a coexistência e determina uma esfera infinita em que substituem possibilidades infinitas de encontro, de comunicação, de compreensão entre o eu e o outro.

Nenhum olhar é meramente individual, ainda que seja sempre o indivíduo que vê. Isto porque o indivíduo é um ente coexistente.

O homem é plural. Os outros não são aqueles com quem o indivíduo convive, nem aqueles que o completam; os outros constituem-no. sem o outro o indivíduo não é.

Nunca estamos acabados como algo presente, estamos sempre abertos para o futuro no sentido de conduzir a nossa vida.

Quando o ser é compreendido na sua impermanência, no seu aparecer, desaparecer, é a existência humana mesma, entendida como coexistência (singularidade e pluralidade) em seus modos de ser no mundo.

Qualquer escolha é aquilo que pode redespertar, ou colocar em movimento o que já vive em nós, por isso nos desperta atenção. Por esse motivo a tendência de me identificar com algumas pessoas.



I - O Espaço é uma Construção do Pensamento

O meu "agora" não é o seu "agora", a não ser que estejamos nos movendo à mesma velocidade e no mesmo sentido. Se não estivermos, nossos "agoras" não serão os mesmos. Todo o universo pede estar num ponto menor que este (para um observador situado em nosso nível).
E nós poderíamos, ainda assim, experimentar o espaço como o conhecemos.


*

J - Teoria de Campo

Kurt Lewin (1890-1947) nasceu na Alemanha, doutor em psicologia, estudou a interdependência entre a pessoa e o seu meio social.

O comportamento é uma função do campo, do qual ele é parte, ele não depende nem do passado e nem do futuro, mas do campo presente. Este campo presente tem uma determinada dimensão tempo, inclui o passado psicológico, o presente psicológico e o futuro psicológico, que constituem uma das dimensões do espaço de vida exixtindo num determinado momento. (Lewin, 1965. p.32)

Na abordagem de campo da Gestalt-terapia tudo é visto como vir a ser, movendo-se, nada é estático. O campo é a pessoa no seu espaço de vida. A realidade é sempre relacional e é assim que precisa ser compreendida.

K - Teoria Organísmica

Kurt Goldstein (1878-1965)

O indivíduo é um todo unificado, como um campo integrado em sentimentos, sensações, emoções, imagens. O corpo e a mente não são entidades separadas. O organismo é uma só unidade.

Uma verdadeira compreensão da condição individual só é alcançada se considerarmos o indivíduo como parte da totalidade da natureza e em particular da sociedade humana a que pertence.

O todo não pode ser compreendido pelo estudo das partes isoladas. O todo é regido por leis que não se encontram nas partes. O todo é o seu próprio princípio regulador.

O homem possui um impulso dominante de auto-regulação pelo qual é permanentemente motivado. Tem dentro de si potencialidades que regulam seu próprio crescimento.

O organismo se expressa ora como figura, ora como fundo. Uma figura, embora destacada do fundo, mantém-se ligada a ele e recebe dele sua origem e explicações.

L - Psicopatologia Fenomenológica

Precisamos compreender um sintoma como um estilo de ser-no-mundo, no modo que este ser se dá existencialmente. Não há sentimento, comportamento ou qualquer outro modo de ser de uma pessoa, que exista isoladamente, pois o ser-no-mundo reflete a inseparabilidade. O sofrimento que pensamos estar só dentro, também está fora.
Podemos entender conflitos interiores como conflitos entre a existência do organismo e o social, num ajuste permanente e criador, visando o reequilíbrio constante do organismo.
Se uma flor for atingida por uma forte geada fora da estação, ela não se abrirá, a pessoa da mesma forma. A dinâmica da personalidade fica danificada. O que é chamado de neurose ou psicose, nós gestalt-terapeutas, chamamos de ajuste criativo. Estar encoberto é uma realidade existencial, não é um estado patológico.
O reconhecer deste existencial compartilhado é que permite a consciência com responsabilidade.





M - Assim, afinal de contas, por que estamos aqui?

O espaço tempo está aqui exatamente para se ter alguma coisa a fazer. Assim, jogamos o jogo. Dançamos a dança. A alegria está na mudança, no processo, não na conquista. Não podemos, nunca, experimentar completamente o além do espaço-tempo dançamos, contudo, rumo a ele.


*

Conforme nos voltamos para o nosso interior compreendemos: eu afeto diretamente os universos, eu assumo a responsabilidade direta; não espere pelo guru, não espere pelo messias, não espere pela segunda vinda. O "eu" real está aqui e agora - no íntimo. Acorde e sinta o aroma do café.


*

E Agora ?

Compreenda:
todo evento no indefinido número de universos é influenciado por você.


Compreenda:
Há vida em todas as coisas.


Compreenda:
Você não é aquilo que ensinaram a você.


Permita à consciência unir-se com você.


Desenhos: Ricardo Waldaman

* exceto indicados, extraídos de:

Toben, Bob e Wolf, Fred Alan. Espaço-Tempo e Além. São Paulo:Cultrix, 1999









fonte - http://www.igt.psc.br/Artigos/teoria_organismica.htm



1 - A teoria organísmica-holística de Kurt Godstein como parâmetro para a construção de uma teoria da personalidade humana.



O livro “ The Organism” tem como subtítulo no seu original a seguinte frase – “ A Holistic Approach to Biology Derived from Pathological Data in Man”. De saída já podemos fazer dois comentários sobre este sub-título – a evidente preocupação do autor em buscar uma abordagem holística na biologia e a direta conexão com suas pesquisas na área das patologias neurofisiológicas. Creio que este comentário seja extremamente pertinente pois, precisa-se deixar claro que Kurt Goldstein não propunha a se dedicar ao estudo do comportamento humano do ponto de vista psicológico e sim biológico, mesmo que holisticamente compreendendo não ser possível isolar estas áreas de estudo. Além disso, Kurt Goldstein também não pretendeu criar leis ou premissas que pudessem ser aplicadas de modo amplo aos modelos normais de comportamento humano. Seu modelo, mesmo que inovador e crítico em relação ao método preponderante de estudo nas pesquisas naturais, é ainda um modelo biológico e voltado para o estudo de fenômenos patológicos. Esta marca se faz presente na Gestalt terapia transparecendo, muitas vezes, por trás de uma conceituação ainda com traços de um linguajar fisicalista e de comportamento normal e anormal. Esta é uma contradição na teoria da Gestalt Terapia, que dentro de uma visão filosófica basicamente fenomenológica e existencial pretendia abandonar a idéia de normalidade e anormalidade e de funcionamento biologicamente embasado. Mesmo assim, a riqueza da teoria organísmica presente na obra de Kurt Goldstein foi enriquecedora e fundamental para a visão de homem, ainda não muito mudada, na teoria da abordagem gestáltica.

No prefácio do livro “The Organism” já fica clara a intenção do autor de propor um novo método para o estudo dos seres vivos, principalmente o homem. Este método, chamado de holítistico, propunha-se a entender o organismo como um todo e não como a soma de partes isoladas. Pelo método holístico, nenhum tipo de experiência deve ser excluída, ao se estudar os seres vivos - toda e qualquer forma de experiência é válida para o entendimento global do funcionamento deste ser. Quanto à visão de ser humano, contida na teoria holística de Kurt Goldstein, este defendia que o sentido de “ser” só é possível através da experiência conjunta de existência com os outros e no mundo. Esta visão fenomenal trazida pela teoria organísmica de Kurt Goldstein é bastante próxima ao descrito também por Kurt Lewin na sua Teoria de Campo, sendo uma das premissas da abordagem gestáltica.

Na introdução deste livro, uma idéia fundamental é apresentada – a da impossibilidade de se reduzir o entendimento dos comportamentos humanos, mesmo àqueles aparentemente mais simples, sendo necessário um olhar complexo para uma correta avaliação. Kurt Goldstein fazia um alerta de que procedimentos de estudo reducionistas ou isolacionistas não permitiriam alcançar-se a “essência” (a natureza intrínseca) do homem.

Quanto a noção de sintoma, a Gestalt terapia tinha o claro objetivo de construir uma conceituação bastante diversa das teorias psicopatológicas preponderantes na psicologia, no momento de sua criação. Kurt Goldstein já defendia que os sintomas deveriam ser encarados como tentativas de adaptação do organismo, como respostas deste buscando equilibrar-se entre as demandas do meio e as necessidades prioritárias para o funcionamento do organismo. Um mesmo distúrbio pode ser a base de sintomas bastante distintos em indivíduos diferentes ou em momentos de vida diversos de um mesmo indivíduo. Não há uma regra clara e simples para descrever sintomas esperados a partir de um distúrbio diagnosticado. A ressalva que Kurt Goldstein faz é de que, de um modo geral, quando o organismo é confrontado a executar uma tarefa que, por qualquer razão, não está habilitado a executá-la, ele apresentará um comportamento desordenado diante da situação. Goldstein destacava que estas situações de ser provocado a realizar algo que não tem condições de fazer geravam, o que podemos chamar, de grande ansiedade no organismo e que os comportamentos desordenados resultantes são comportamentos desarmônicos, tanto do ponto de vista do organismo, quanto do meio ambiente. No homem isto levava há um fenômeno descrito por Goldstein, principalmente nos casos de indivíduos lesionados cerebralmente, onde o sujeito evitava, de todos os modos possíveis, expor-se às situações onde fosse necessária a execução de ações que não estivesse apto a executar. Goldstein apontava como uma conseqüência, do descrito acima, uma tendência destes pacientes em buscar comportamentos padronizados de ordem, uma tendência em evitar experiências que pudessem gerar qualquer sensação de vazio, de desordenação. Fritz Perls amplia esta noção para descrever comportamentos presentes nos mecanismos neuróticos, onde esta evitação da novidade, de situações geradoras de sensação de vazio, também se faz notar como uma tentativa neurótica de padronização de modos de atuação já conhecidos.

A teoria da Gestalt terapia vai compartilhar com a teoria organísmica de Kurt Goldstein a idéia de que tentativa de repetição de padrões de comportamentos já conhecidos, a não mudança e não exposição a situações novas, é uma tentativa dos indivíduos de não lidar com a ansiedade gerada pelo inesperado. Este mecanismo justifica-se, no caso de lesões de ordem neurológica, como um mecanismo adaptativo onde o indivíduo busca não se expor a situações que lhe demandem respostas que não está apto a manifestar. Já nos ditos casos de “normalidade”, esta repetição de padrões já conhecidos de comportamento diz respeito à tentativa de evitação da ansiedade gerada pela experiência do vazio, da novidade. Quando há uma cristalização deste padrão a teoria da personalidade da Gestalt terapia vai entendê-la como um padrão neurótico de comportamento, padrão este que vai levando ao empobrecimento das experiências do sujeito, a um repertório repetitivo e limitado de comportamentos que não propiciam a mudança. Conforme citação de Kurt Goldstein: “ The environment of on organism is by no means something definite and static but is continuosly forming commensurably with the development of the organism and its activity.” (p. 85)

Goldstein já trazia o pensamento sistêmico para constituir as bases da teoria organísmica. Dentro desta visão, o organismo é compreendido em si como um sistema, que funciona como uma unidade, sendo que qualquer estímulo que atinja este organismo em qualquer um dos seus subsistemas, necessariamente promoverá mudanças na unidade total. Os padrões de resposta (perfomances) desta unidade são guiados por um objetivo único – a busca de equilíbrio do sistema global. Kurt Goldstein já dizia que este modo de funcionamento se dava de forma semelhante à lei de figura-fundo da Psicologia da Gestalt para explicar os fenômenos perceptivos. Fritz Perls irá ainda mais longe, estendendo a lei de figura-fundo para todas as áreas de funcionamento do homem. Sendo assim, a emergência de tarefas, desafios, ou ações necessárias ao bom funcionamento do organismo surgem como figuras que se destacam como prioridades para o indivíduo. Estes desafios conforme Goldstein, Perls chamará meramente de necessidades. Goldstein dizia que estas eram definidas pela “essência” (dotação natural) do organismo. As mesmas são atualizadas diante das mudanças trazidas pela relação com o meio circundante, que está interagindo permanentemente com o organismo total. O equilíbrio acontece quando o organismo consegue se atualizar através de suas perfomances[i]*, lidando simultaneamente com as demandas do meio.

Goldstein definia a auto-regulação organísmica como uma forma do organismo de interagir com o mundo, segundo a qual o organismo pode se atualizar, respeitando a sua natureza, do melhor modo possível. Este lidar com o meio pode se dar tanto através de reações de aceitação e adaptação a este, quanto também através de ações de rejeição e fuga do mesmo. Quanto à continuidade do sistema é ameaçada pelo contato com o meio, a retirada do contato é uma tentativa de adaptação do organismo. Esta noção de fuga, de resistência, como respostas também de equilibração, é claramente levada para o campo conceitual da Gestalt terapia.

Goldstein trouxe importantes contribuições para as teorias dos instintos e dos reflexos. Ele destacou que os reflexos também deveriam ser estudados e explicados dentro de uma visão holística – que assim como qualquer outra reação do organismo eles deveriam ser entendidos como uma resposta do organismo de modo global. Ele mostrou que um reflexo não sofria modificações relativas apenas ao estado geral do organismo, premissa esta já aceita na teoria dos reflexos vigentes, mas sim que desde o início as reações do organismo estão condicionadas pelo campo muito mais além do que o do arco-reflexo. Goldstein opunha-se, radicalmente, a visão que defendia que as perfomances do organismo seriam uma mera composição de reflexos. Até mesmo as ações instintivas também só poderiam ser compreendidas do ponto de vista holístico, ou seja, como referentes ao organismo como um todo e de acordo com as diversidades de cada situação.

Goldstein não descartava a importância da formação de reflexos condicionados para o processo educativo da criança. Ele defendia que alguns hábitos (citando especificamente a formação de hábitos relativos ao toalete) eram adquiridos através da formação de reflexos condicionados. No entanto, com o amadurecimento desta criança, haveria uma integração destes hábitos com uma reflexão (insight) sobre estes, levando a execução de comportamentos intencionais. A maturação dotaria então o organismo da capacidade de lidar de modo satisfatório com situações novas. Sendo assim, quanto mais madura a criança menos ela apresentará comportamentos governados por instintos. Nesta linha de pensamento, Goldstein trouxe considerações muito inovadoras sobre o conceito de drives*. Ele questionou o pensamento vigente que pregava que o objetivo primeiro dos drives (impulsos) seria o de descarregar o organismo de algum excesso de tensão. Na realidade, Goldstein acreditava que esta tendência à descarga de tensão como a prioridade do organismo é uma expressão de desarranjo, de mau funcionamento do mesmo.

A lei que governaria o funcionamento dos organismos era, para a Goldstein, a da tendência para atualizar-se. Segundo suas palavras:



“ We can say that an organism is governed by the tendency to actualize, as much as possible, its individual capacities, its “nature” in the world. This nature is what we call the psychosomatic constitution,... This tendency to actualize its nature, to actualize “itself”, is the basic drive, the only drive by which the life of the organism is determined.” (p. 162)



Podemos dizer que a Gestalt terapia foi construída sobre esta crença, de que a lei que governa o funcionamento do ser humano é a da busca da auto-atualização, salvo condições de extrema anormalidade. Fritz Perls iria pregar, na teoria da abordagem gestáltica, que os indivíduos se auto-atualizariam dando prioridade para a execução de ações que visassem a satisfação das necessidades emergentes como figuras. Sendo alguma necessidade satisfeita, esta deixaria de ser figural e outra necessidade emergeria. As complicações surgiriam, neste processo de auto-atualização, quando não houvesse a possibilidade de satisfação de uma necessidade básica. Se um indivíduo é forçado a conviver com uma situação de restrição por muito tempo, o seu modo de funcionamento é afetado e este passa a se comportar de um outro modo não harmônico. Portanto o funcionamento não harmônico é o resultante de situações de limite, onde se forma um padrão de adaptação emergencial.

Goldstein já tinha dito que a noção de drives (impulsos) deveria ser substituída pela idéia de que o organismo é dotado de potencialidades que são capacidades da natureza do organismo de lidar com o meio de modo a estar sempre buscando a auto-atualização. Isto que Goldstein nomeou de capacidades naturais do organismo, potencialidades, ele afirmou que as mesmas não são guiadas pela consciência (apesar de ser influenciadas por esta) pois, mesmo em pacientes que apresentavam distúrbios da consciência, haviam mecanismos de auto-regulação organísmica presentes. Goldstein dizia também que estas potencialidades também não são biologicamente determinadas, mas sim só podem ser entendidas de modo holístico. Uma destas potencialidades apresenta-se como uma tendência do indivíduo de completar ações incompletas, ou seja, em finalizar situações inacabadas. Na Gestalt terapia diz-se que uma necessidade impossível de ser satisfeita leva a formação de uma situação inacabada, de uma gestalt aberta. Que a busca do indivíduo é completar suas situações inacabadas levando ao fechamento de gestalten....continua

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