terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Minha estrelinha está no céu


Preta

Fabiano Martins


Vai bicho
desafinar o coro dos descontentes
com sua voz rouca, pouca
estridente
vai bicho
fazer alguém feliz do lado de lá
Estrela
Sorte
Amor
Você que de tão pequena mal coube nos meus braços
e de tão grande que na partida me levou felicidade


Vai bicho,
que de você tudo foi bom
mesmo o choro compulsivo que proporciona a sua ida
mesmo o cheiro bom do seu hálito animal


Vai bicho, me dá novas alegrias
intercede por nós todos
vai brincar nas nuvens


Vai bicho, que eu nunca vou te esquecer
mesmo parado e quieto sofrendo por ter de te perder
Eu digo, que por sua existência hoje sou melhor
Eu digo, que por tua paciência com meus gritos
eu hoje sou melhor


E lembro de você em meus braços ou no emaranhado de pernas e edredons da minha cama,
você ficava quieta e desejar a parte próxima dos pés,
a descansar comigo


Bicho do meu bando,
vai ser feliz
Transcende esse corpo que é matéria oca sem o brilho da alma
sem o brlho do seu olhar


Vai bicho,
você que por tantas vezes se escondeu,
e nos momentos mais terríveis
fez questão de impugnar a si a dor de tudo
transformou em câncer


Vai bicho, que nunca fui teu dono,
sempre fui teu irmão
Vai bicho,
que mal cabia nos meus braços de tão pequena
que de tão grande, nunca vou conseguir descrever em palavras apenas


Como o seu amor me fez crescer!


eu morro um pouco com a tua morte,
e fica o desleixo dessa sorte
que nos faz viver mais que nossos bichos
que nos faz sofrer mais por isso


e nisso me consolo, nessa sofreguidão piegas que durante a vida me impedi de confessar,
nesse amor de pêlos brancos e bons desejos que me deixou amar


Vai bicho, você que era gente
mais gente, do que a gente que a gente vê pela janela
Você que era contente por ter contemplado a glória de ter voltado da gaiola;
por ter preenchido o que era vazio
e inspirado o que era seco


Voce que deu rumo à minha história,
testemunha ocular do meu amadurecimento
Por meu abandono e por todos os nossos reencontros e todos os outros momentos


Eu sempre vou te querer bem, e prometo nunca te esquecer
vai bicho, vai ser feliz porque você não merece o gosto amargo de sofrer


Vai bicho,
vai brincar nas nuvens,
que eu fico aqui debaixo
a contar todo o bem que trouxe para as nossas vidas
a contar desse animal, que só era belo pra mim


A contar do teu pêlo proeminente do início da sua vida,
das consequências que trouxe o envelhecimento e sua posterior partida
Vai bicho, porque eu vou te contar
dos teus vários nomes, do seu choro quieto
do teu lugar nesse sofá


Do teu focinho negro e gelado
Do teu corpo quente e afago
daquela lambeção aflita
de tudo que fez você ser querida


Vai bicho me abençoa aí do céu
Abre o meu caminho...
E um dia, quando eu estiver velhinho,
vem me buscar
corre até o portão deste lugar,
Late, Late muito
E faz a festa que, apertado de choro,
meu coração espera de novo escutar.

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