sábado, 26 de setembro de 2009

PSICONEUROIMUNOLOGIA

PSICONEUROIMUNOLOGIA

Relacionar a Imunologia com a Psiquiatria tem sido fácil, atraente e extremamente didático. Há uma variedade de evidências para o relacionamento recíproco entre Sistema Psicoemocional e vários componentes do Sistema Imunológico, justificando o agravamento e/ou desencadeamento de uma série de doenças físicas por razões emocionais.

A reciprocidade entre o Sistema Nervoso Central e o Sistema Imunológico estimula o desenvolvimento de uma nova e interessante área médica; a Psiconeuroimunologia.

Os tópicos de estudo da Psiconeuroimunologia seriam as perturbações de um sistema que se refletem no outro e vice-versa. E, de fato, faz muito sentido que estes dois sistemas sejam fortemente integrados, pois ambos são responsáveis pelo relacionamento do organismo com o mundo externo, ambos avaliam se os elementos da realidade externa à pessoa são inócuos ou perigosos, ambos servem à defesa e adaptação, ambos possuem memória e aprendem pela experiência, ambos contribuem para o equilíbrio do ser no mundo e consigo próprio.

Como reforço a esta analogia, podemos citar ainda que os erros nesses dois sistemas podem produzir doenças; por um lado, as doenças imunológicas, auto-imunes, alergias e a vulnerabilidade a toda sorte de infecções e, por outro lado, as fobias, pânico, transtornos adaptativos e por estresse.

Da Emoção à Lesão


As pessoas reagem diferentemente ao estresse, inclusive em termos de eventuais doenças psicossomáticas. Ao estudarmos o Afeto, entendemos que parece haver uma espécie de filtro (exemplificados como lentes de óculos hipotéticos) através do qual os fatos e eventos são percebidos pelo indivíduo. Isto faria distinguir situações percebidas como estressantes por alguns e não por outros.


Essa sensibilidade pessoal diante da vida exerce um efeito atenuante ou agravante aos eventos, efeito este que depende mais da própria personalidade que das circunstâncias. Isso definirá o modo de ser, de reagir, de enfrentar e de se adaptar ao estresse.

Assim sendo, podemos dizer que a elevação da pressão arterial diante do estresse, por exemplo, parece depender mais da avaliação pessoal (subjetiva) que o indivíduo faz da situação do que da própria situação, objetivamente considerada. Alguns observadores notaram que os hipertensos tendem ao pessimismo, antecipando conseqüências negativas dos fatos e a interação interpessoal e social é por eles vivida como fonte de ansiedade e estresse.

A Opção Somática das Emoções

É no Sistema Límbico que tem início nossa função avaliadora da situação, dos fatos e eventos de vida. Esse modo de avaliação sempre leva em consideração vários elementos, tais como, a personalidade prévia, a experiência vivida, as circunstâncias atuais e as normas culturais.

É devido a esse aspecto multifatorial que uma dada situação vivida pelo indivíduo sofrerá um processamento interno envolvendo sua avaliação quanto à natureza do evento e sua possível ameaça, bem como um processamento interno acerca da escolha ou decisão da melhor maneira de enfrentamento, resultando, finalmente, numa dada resposta. Tanto os fatores constitucionais de personalidade, quanto as experiências anteriores de vida representariam o núcleo desse sistema de avaliação.

Desde a década de 60, Selye já dizia que a "preferência" de um agente estressor por um determinado órgão ou sistema, bem como a intensidade dessa resposta, parece ser determinada por fatores condicionantes internos e externos ao indivíduo, ou seja, depende de características herdadas e adquiridas.

De acordo com esse aspecto extremamente pessoal da resposta do sujeito ao estresse, podemos entender porque diante de situações semelhantes, os diversos indivíduos reagirão de forma diferente. Isso refletirá sempre o modo peculiar de cada um avaliar as situações, e o que é estressante para um, pode não ser para outro.

Da mesma forma, também o modo de enfrentar cada situação é peculiar e particular a esse determinado indivíduo, conforme sua história, circunstâncias, aptidões e personalidade. Essas aptidões personais (de personalidade) são quem nos oferece maiores ou menores "opções" de enfrentamento da situação.

E a palavra "opções" foi colocada entre aspas por tratar-se de uma atitude intencional e involuntária. Pode-se dizer, então, que a opção mais elaborada de enfrentamento seria aquela de encarar a situação conscientemente, objetivamente, podendo falar sobre ela, discutir, refletir, superando-a conforme as características e os recursos à nossa disposição.

Quando não é possível encarar a situação objetivamente, seja porque o problema não está sendo consciente, seja porque faltam recursos disponíveis à personalidade, a tendência será lançar mão de outras formas mais atípicas de enfrentamento.

A forma mental de enfrentar a situação seria, por exemplo, fantasiar, racionalizar, negar, rezar. A maneira emocional de enfrentamento seria deprimir-se, agredir, culpar os outros ou culpar-se, chorar, gritar. Ainda existem algumas atitudes de enfrentamento atípico, que seriam isolar-se, exibir-se, brincar, arriscar-se, comer, beber, transar, fumar, trabalhar excessivamente e, finalmente, de particular interesse à psicossomática, uma maneira somática de enfrentamento, representada pelo adoecer.

Eis algumas "opções" de enfrentamento adotadas pela maioria das pessoas*:

1. Olhar o problema objetivamente.
2. Buscar alternativas para enfrentar a situação.
3. Falar sobre o problema.
4. Ter esperança de que as coisas melhorem.
5. Procurar apoio com familiares e amigos.
6. Agitar-se fisicamente.
7. Fumar, beber e usar drogas.
8. Comer e dormir em excesso.
9. Adoecer fisicamente.
10. Gritar e agredir.
11. Meditar e relaxar.
12. Isolar-se e ficar só.
13. Esquecer o problema.
14. Resignar-se.
15. Sonhar e fantasiar sobre o problema.
16. Rezar.
17. Ficar nervoso.
18. Preparar-se para o pior.
19. Deprimir-se.
20. Dedicar-se excessivamente ao trabalho.
*MELO FILHO J – Psicossomática Hoje – Artes Médicas, 1992

Para entendermos de forma mais clara os processos da somatização devem ser considerados, sobretudo, os tipos de resposta emocional resultante da avaliação que fazemos da realidade (e dos estressores) e nossos mecanismos pessoais e particulares de enfrentamento da situação. A escolha somática para eclosão das emoções parece depender de uma série de fatores ou mecanismos, desde os mais somáticos aos mais psíquicos.

Observando-se tanto os animais quanto as pessoas, notamos a presença de dois componentes no processo emocional de adaptação do sujeito às exigências da realidade. Existe o componente expressivo ou sinalizador e o componente comportamental ou de enfrentamento, propriamente dito.

As manifestações fisiológicas e/ou somáticas resultantes do estresse adaptativo, chamadas de somatizações, podem ser entendidas como uma forma de falar ou de se expressar. E quanto menos eficientes são os mecanismos mentais ou cognitivos de sentir, falar e agir, mais o sistema somático será utilizado para expressar emoções. Isso significa que quanto mais "puras" forem as emoções, menos somáticas se tornarão.

A Síndrome Geral de Adaptação, descrita por Hans Selye e posteriormente identificada como o próprio estresse (veja tudo sobre Estresse), é um conjunto de reações fisiológicas e eminentemente somáticas, de cunho sobretudo emocional, que surge quando o organismo é compelido adaptar-se à alguma situação alarmante. O processo que vai do estresse até o resultado somático final será sempre um processo fisiológico e biológico, atrelado às características da espécie mas, identificar ou considerar um estímulo como sendo estressante ou não, será sempre uma atribuição emocional e particular do sujeito (não mais e exclusivamente da espécie).

Na realidade, não será errado chamar o estresse de "extrema ansiedade", uma vez que é produto de uma avaliação emocional acerca do potencial estressante dos estímulos. Será de natureza ansiosa, na medida em que aparece cada vez que o organismo se percebe ameaçado em sua integridade. Podemos, então, afirmar que a ansiedade é um estado de tensão interna do indivíduo no sentido da adaptação, diante de algo que o ameaça.

A resposta ao estresse envolve um nítido componente somático e a localização dessa resposta neste ou naquele órgão, neste ou naquele sistema dependerá, primeiramente, da natureza e intensidade do agente estressante, em segundo, da participação da estrutura orgânica do indivíduo e, finalmente, da possível hipersensibilidade ou fragilidade constitucional que tornaria tal estrutura menos resistente.

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