domingo, 20 de setembro de 2009

A auto comiseração



A auto comiseração


Sentir pena de si mesmo. Se tem algo que eu acho absurdo é este sentimento
de auto piedade gerado pelas nossas neuroses. Como pode um individuo adulto,
passar pela vida com esta sensação de coitadinho. É uma necessidade de
atribuição de causalidade externa.( A Teoria da Atribuição representa uma
importante corrente de estudo da motivação, ao estudar as relações entre
esta e as atribuições causais. Da mesma forma, subsidia discussões sobre
auto-conceito e auto-estima. Se o acontecimento não agrada, a tendência é
que vc atribua a uma entidade externa a culpa pelo que lhe aconteceu.)

O arquétipo de coitadinho

Geralmente somo atraídos por este papel, ele nos salva da culpa. A idéia de
sermos vitimas e não os causadores de um acontecimento infeliz, nos alivia
de uma pressão criada pela nossa cultura. Na cultura judaico-cristã,
aprendemos que apenas os inocentes e humildes vão para o céu. Seria o grande
arquétipo da vitima do mundo. O individuo se entende como inocente de tudo,
pois isso o ajuda a sobreviver dentro desta cultura. Já temos que assumir a
culpa da crucificação de cristo. Não podemos assumir mais nada, pois tudo
pode ser entendido como pecado até a própria representação do pecar contra
Cristo, que nos libertou.A humanidade já nasceu culpada, por isso não pode
assumir mais nada.

Aculturação

Cristo sem dúvida foi a maior representação do sagrado que há em nós. Um
exemplo para a humanidade de integridade, e de compaixão. Mas Cristo nunca
se posicionou como coitadinho. Ele nunca usou o seu comportamento para nos
cobrar nada.Ele apenas nos inspirou. Quem utilizou a imagem de Cristo de
forma a manipular uma população ( população ignorante e carente de fé, neste
dado momento histórico) foi Roma, que, de uma forma ou de outra se beneficiou
com este acontecimento (o Cristianismo). Sempre utilizando da imagem de
Cristo para definir padrões de comportamentos na população, que viessem a ser
úteis ao estado romano.

Esta, sem duvida, não foi a primeira, nem será a ultima vez, em que a política
se apropria de forma indébita de ideais que não acreditam, só para criar
situações que facilitem o manejo político da população.

Como padrão de comportamento

Agindo sempre como vitima do mundo, este individuo imaturo e inseguro,
sempre se refugia na atribuição da causalidade externa (a outras pessoas).
Este movimento só vem aumentar e reforçar um sentimento de incapacidade do
individuo em relação ao mundo.Ele sempre se esforça (mesmo que,
inconscientemente) para concatenar pensamentos, e assim ser conduzido a uma
estória imaginária ou não, até chegar ao papel de vitima. Seria um vicio?
Estaria este individuo dependente deste papel de vítima? Ele instrumentaliza
sua carência e a sua dor de forma a conseguir um objetivo, talvez o de
chamar a atenção. A forma com que ele significou este papel e a
representação dele (papel de vitima), na sua vida não está ligado a
realidade, mas sim a uma necessidade interna de preencher o vazio que se
tornou a sua vida.

Causa e condições

Este individuo se coloca sempre como vitima, não acredita que as causas e
condições foram geradas a partir do seu comportamento. E mesmo quando
acredita ter alguma culpa, nunca assume as conseqüências pelos seus atos.

O papel de Deus....

Ele geralmente se refugia em um Deus ou em uma religião, acreditando que
Deus quis assim, e não ele (não aceita que ele se movimentou de forma a
criar as condições para que o algo acontecesse).

A realidade relativa.

Como dizia o filósofo Nietzche, não existe uma verdade absoluta (verdade
platônica), o que existe são pontos de vista. Temos uma questão relevante
que se apresenta : Como este individuo enxerga o mundo a sua volta e como
ele se relaciona com este mundo.

As causas do problema.

Geralmente derivam de alguma realidade vivida na infância, onde ele aprendeu
a instrumentalizar o papel de coitadinho. A relação com os pais, a forma com
que eles passaram as suas experiências de mundo para a criança, ou a forma
como eles recebiam a criança no papel de vitima (deveria haver alguma forma
de recompensa, para se desenvolver o padrão de comportamento).

Os ajustes

Na filosofia budista acredita-se que o ser sempre cria o Karma, ou melhor,
ele é o responsável pelas causas e condições que se apresentam em sua vida.
Mesmo em um caso como o de um crime em que um inocente vai preso e não o
culpado, o budismo vê o ser como responsável para que tal fato acontecesse
em sua vida. Eles atribuem a causa a uma situação ocorrida em uma vida
passada, em que foi gerado o karma (lei da ação e reação do universo). É uma
visão bem interessante se nos liberta do papel de coitadinhos. “Nós estamos
exatamente, onde precisamos estar”, nem mais a frente nem mais atrás, estamos
no ponto e no momento que é nosso, e de mais ninguém.Isto é aceitação.



Existencialista

Na visão existencialista, o individuo não se utiliza da religião como uma
muleta, e não faz atribuições a Deus. Ele deve estar consciente do presente
e se projetar em direção ao seu futuro, criando causas e condições para que
as sua projeções venham a se realizar. Assumindo a responsabilidade da forma
com que ele age no presente, e entendendo que isso vai desencadear um
movimento gerador de realidade futura.



As conseqüências

Só assumindo as conseqüências dos nosso atos e, colocando-nos acima dos
problemas é que conseguimos enxergar a realidade.Sem emoções, que nos levem a
uma crise de depressão. A idéia é limpar o excesso de emoção que não te
deixa pensar de forma clara. O entendimento depende de uma visão clara
bilateral da situação. Não ser passional,e entender as pessoas, se
relacionando com o mundo de uma forma mais ampla. Identificar comportamento
com os quais vc se identifica nos outros indivíduos, faz com que vc entenda
melhor o que acontece ao seu redor.

As emoções como fator principal.

Costumamos colocar uma carga emocional em tudo que fazemos. Segundo Husserl
(filosofo que estudou a consciência), não existe a essência (emoção) da
coisa em si, mas o que faz de uma rosa, uma imagem agradável a nossos olhos
e, ao mesmo tempo a visão de uma barata nos parece repugnante, é a essência
que o individuo projeta na “coisa”. Sem a emoção vc não vai se comover
quando receber rosas, ou não vai precisar ter uma crise de histerismo,quando
se deparar com uma barata em sua sala.

A questão é que sem esta excessiva carga de emoção, podemos ser mais
autônomos e mais auto-suficientes.Não estaremos mais como expectadores da
vida e sim como os diretores da peça.Não existe mais dependência da figura
de Deus. E quando eu falo para abandonar a dependência de Deus, não estou
dizendo para abandonar a sua espiritualidade e a sua relação com o sagrado,
mas entender que o papel de Deus em mover o universo, e não se preocupar com
os nossos pequenos movimentos na existência humana. “Dê a Cesar, o que é de
Cesar; dê a Deus, o que é de Deus; dê ao individuo, o que é do individuo.
Entender o papel de cada um, nos permite um auto conhecimento, que pode nos
libertar deste estigma.

Cultivar a angústia

Algumas pessoas estabelecem uma relação com a angústia de forma a não
conseguir se entender como ser, sem passar por este sentimento. Ele acredita
que o que o faz humano, é a existência de sentimentos (exagerados) que
sempre o levam a angústia e a depressão. Não conseguem entender o papel
desta angústia em sua vida, de forma que não conseguem parar de repetir este
comportamento de forma condicionada. Um depressivo será sempre um
depressivo. Parece estranho, mas este individuo precisa da depressão, pois é
a única idéia que ele tem de mundo, e sem ela como ele poderia sobreviver?
Sem este sentimento ele se perceberia deslocado, ou indo em direção ao
desconhecido.Talvez o desconhecido seja mais assustador do que a condição de
depressivo.Quem não tem medo do desconhecido?

O medo

O medo paralisa as pessoas e faz com que fiquem estagnadas. A evolução
demanda uma necessidade de coragem. Vc tem que encarar o desconhecido de
frente e sem medo. Entendo que isso não é fácil, não quero banalizar esta
situação de enfrentamento da vida, mas ela é necessária.



Convite

Vamos nos libertar deste padrão?

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